15 de novembro de 2017

Extermínio - Suzette Rizzo



Sonhei-me sobrevoando palácios etéreos ...
vi a plumagem das minhas asas,
ouvi a sonoridade de poemas...
Sonhei alguns minutos azulados,
alguns segundos perdidos da matéria...
sonhei, levitei, sei lá !
Já não sei há quanto não sonhava
e nem se realmente durmo.
Desconheço o paraíso sob o céu noturno,
reconheço-me a vagar vazios por caminhos duros,
quiçá, cá e lá!
Mas, sonhei-me...  
Reconheci passos dados, expectativas,
o corpo dolorido, o coração cansado
e o pulmão ressecado da nicotina.
Era eu mesma!
Presenteada enfim, por esse sonho raro,
desobstruidor das vias mal cheirosas...
de limo, cerveja e naftalina  
e outros indesejáveis temas.  
Suzette Rizzo - Thursday, July 05, 2012







Poente – Suzette Rizzo


Brotou de repente,
inesperado como tudo,
estupidamente imenso!
Mas, palavra mata,
só uma e pronto...
E a nascente que brotou
estanca, seca, descasa...
Nem era preservação de coisa alguma,
não há rotina que se sustente,
se há luta e cansaço...
O sentir voa como pluma,
se insistir é tal corrente de rio
ou simplesmente descaso.
Desvencilhei-me daquele sentir
que pensei ser tudo e era coisa alguma...
Encerrado... nem cedo nem tarde,  
enterrado numa furna.
Tenho a dizer então, que aplaudo, 
minha força de vontade a esta paixão, 
enfim póstuma!
Suzette Rizzo






De Palavras e Silêncios - Por que escrevo? - Fernanda Guimarães

 

Sempre me perguntam, porque escrevo. Em momentos assim, os olhares acariciam-se em palavras que não se sabem expressar. O pulsar rítmico do coração ensaia respostas que traduzam o que desejam minhas letras, quando se permitem alçar voo em busca do horizonte de outro olhar.
Quando o poeta espalma suas mãos, libertando-se em versos, não apenas alinha letras, mas afaga corações. O escritor "usa" a palavra como instrumento de sedução. Falo da sedução no sentido mais amplo que ela possa ter, que é o de encantar, atrair. O escritor vive do olhar do outro, da multiplicação da própria emoção naquele que o contempla.
Penso que a escrita é também uma resposta ao desconhecido íntimo que nos habita a alma e o coração. Escrevemos para manifestarmos o que nos punge e nos incita, assim como para darmos forma ao mundo silencioso que há no dentro de nós.
Percebo o momento da escrita como um ato de profunda solidão, mas também compreendo-o como libertação e inquietação. Libertação, porque nos confere o poder e a opção de expressarmos e/ou compartilharmos nossas emoções, mistérios e silêncios. Inquietação, porque a palavra na maior parte do tempo, revela-se aquém do que sentimos, desejamos, sonhamos ou vivemos. Daí, a busca incessante do escritor: garimpar no veio das letras, palavras que escrevam o além que a inspiração lhe confidencia. Quando a palavra abraça a inspiração do escritor, estabelece-se um diálogo de sussurros entre muitos mundos, como se cada letra, tocasse não apenas o grafite, onde a emoção se deixou espraiar, mas a alma de cada sílaba, onde pulsa o coração do universo.
Quando a palavra deixa o leito das mãos, percorre horizontes inimagináveis. O destino, o porto, o pouso, quem o saberá?

Fernanda Guimarães