9 de dezembro de 2014

Feitiço



Feitiço
Suzette Rizzo

Contigo, bebi do vinho capaz de somente atiçar
meus desejos inquietantes.
É assim que o amor adentra ,
causando baderna incessante.



Embriaguei-me de palavras,
de olhares sedutores,
carregando-te nos andores
dos sonhos meus.

Eras um anjo enfeitado de sorrisos,
um anjo em qualquer ângulo da ilusão
que com asas enormes me abrigava,
e descansava-me do cotidiano da solidão 

Eras...  não mais voltaste
com teus afetos e beijos delirantes.
Deixaste somente o pão da saudade,
o pão que o demônio amassa

e cai na minha boca... aloja-se na alma,
envenenando meu ser da tua seita maldosa,
ser eternamente sangrado dos teus espinhos.

É assim que o amor prejudica...
assim viciei-me da fala e do olhar,
e caí nos braços do teu feitiço. 
Suzette Rizzo
2004


9 de dezembro


9 DE DEZEMBRO
Suzette Rizzo

Nasci...
Imposta pelo destino,
entre somente
orgasmos,
acontecida no organismo
de um útero gelado .



Nasci...
De uma mulher
de espírito desajuizado          
e de um bom homem,
porém, despreparado;
Eu, intrusa, imprevista,
eterna visita,
fato contrariado.

Mas enfim, aconteci...
Na Promatre e era
status,
abrir os olhos por lá.
E fui registrada,
batizada
pra depois ser
rejeitada,
reprimida, bloqueada
e futuramente
vítima dessa desordem,
de fases madrastas.

Cresci...
Sem muita beleza  
ou a lourice
ítalo-francesa
da mãe que pariu
de mentira;
Entre brinquedos,
duendes,
eu princesa,
de princípios
burgueses
sobrevivi...
Pra descontento
das freiras
e das forças exorcistas.  

Hoje...
Sou continuidade 
da neurose,
Sagitário- Escorpião :
Mística sonhadora,
gestante de ilusões,
solitária e maluca,
eu vida madura
condenada as maldições .

Porém,  existo...  
Amante da essência,
do incógnito,
sensivelmente vivendo,
é lógico,
poetiza de mim
e da minha história,
de duras provações!

           Suzette Rizzo

Ao léu





AO LÉU
(Uma história real e muito triste
de alguém que amei demais!) 
Suzette Rizzo

O menino de alma aflita, quis,
como todo menino,
agarrar tudo que tinha,
e de seu, pensava ele,
só tinha a vida. 


Jamais deixou transparecer tristezas,
pelo contrário...
Sorria e cantava madrugada afora,
escrevendo nos papeis guardanapo
místicas poesias,
cuja dor expandia.
Mas, tão bonito, meio louco...
ninguém o entendia . 

Não expeliu revoltas,
e se assim foi,
ninguém soube, ninguém viu.
Era justo, bom, amigo,
tinha no olhar a ilusão infinita,
de ser algo na vida, 
ser o pai que não permitiram...

E adormecia, abraçado a lembrança
da filhinha
que sentira nos braços os poucos minutos
que consentiram
quando comovido, a conhecera.

Depois de nós, seguiu infeliz,
abandonado, solitário,
Entre dores desde o berço
e, livre como era, fez muita besteira.
Até que de repente, me contaram,
no meio da noite fria,
ouviu-se agudo estampido.
E do seu corpo ensangüentado,
escapou-lhe a alma impulsiva...


rastejando por tempo impreciso,
asas feridas.

Suzette Rizzo


Andanças da alma


Andanças da alma
Suzette Rizzo

Andei 
pelos corredores da essência
até o fundo
e, senti tantas sensações,
que me perdi no tempo
entre culpas aflitivas ,
mágoas e náuseas,
uma terrível profusão
de sentimentos.

Não foi um longo passeio
e sim uma sugada repentina
entre sono e vigília
há anos luz desta vida.
Algo estranho e reflexivo, 
tanto quanto o sonho que tive um dia
com um símbolo esotérico
aclarando definitivo.

Voltei mais pacifista,
mística,
curiosa, coisa que não sou ,
sentindo-me carne, animal e pluma,
assim,  pouco de tudo...
meio xamã, meio espírita,
agnóstica e bruxa.

Desta vez, voltei muitas criaturas,
sentimentos misturados
e uma vontade louca
de equilibrar razão e fé,
distribuir num bom poema
o que não falo pela boca.

E passar
adiante a certeza absoluta
de ter sido tudo e muitas vezes...
Porque não?
Se "Elias voltou em João"
e além,
serei mãe do meu cão

Suzette Rizzo.