23 de janeiro de 2014

AMEI ASSIM
 Suzette Rizzo


Engoli  como um licor,
saboreei como uma manjar
e guardei em meus ouvidos
a voz do sonho,
como fosse uma canção,
ecoando levemente
em baixo som.








Deitei na grama como fosse nuvem,
adormeci como um anjo pequenino,
dancei tal qual  bailarina,
e amei ,como se amar fosse levitar
sobre os raios do luar.


Vivi um sonho-poesia,
sentindo a fragrância do amor
infiltrar-se nesta essência,
mansamente;
Como quem bebe água da fonte
e sacia-se completamente.


E de nada valeu amar assim,
pra ele ou pra mim

                                Suzette Rizzo


Ô vidinha!
Suzette Rizzo

Fugiu na madrugada,
silenciosamente !
Quem diria fosse o inverso
do homem sensato, respeitado,
casado comigo!
E não é que sensato,
era tudo que não era?





Fugiu para os braços da outra!
Aliás, depois disso,
todos fugiram para as outras.
Falta de sorte a minha!
Tão equilibrados, atenciosos
e não é que sinceridade
era tudo que não tinham?

Mas, eu não fugi!
Suportei e muito bem:
Lágrimas ressentidas,
alma partida ao meio,
e tudo isso sem esteio,
sem esconderijo,
sem ombro aos lamentos,
sem destino.

Vida é assim!
Cabeçada pós cabeçada
e madrugadas solitárias.
Ô! saudade angustiada
essa minha!
Só queria apagar este filme,
das minhas linhas
e a palavra traição da nossa língua.

Suzette Rizzo_2004


DESILUSÃO
Suzette Rizzo

Túnel interminável,
manhã detestável...
Ai, que frio,
que medo de subir a serra,
pegar a estrada,
ver fantasmas,
morrer no caminho,
no meio de tudo !





Onde estou, meu Deus !
Esperando o quê,
querendo afinal, porque ?
Ninguém pode desejar
nada tão distante,
nem esperar o bonde
onde ele não passa !

Pareço
um monte de merda
esborrachada...
Quando tento filosofar
entre a sujeira
das calçadas !

Suzette Rizzo


CONFUSO SER... ESTE QUE SOU
Suzette Rizzo

 




Fica a energia,
a sensação da presença
e no ar aquela magia.
 
Sento-me no tapete perto do som,
sentindo a umidade dos olhos dele
em minhas mãos...
 
 
Perco muito tempo
equilibrando pensamentos,
racionais ou não.
 
E com fúria, odeio a resignação,
conduta irreparável
às minhas perdas...
 
Tento, em vão, afugentar o tédio, a saudade
e este sentimento de possessão,
que nunca se afasta, nem me deixa.
 
Então, odeio com tudo que posso,
este querer desorientado, irreprimível e camuflado,
temendo ser violado, sem que eu perceba .

Suzette Rizzo
*


Apesar de tudo
Suzette Rizzo


Vivi a insegurança
do mendigo...
O medo do amanhã...
O sono entrecortado
de sustos...
O pavor da fome
doendo o estômago...                            
Enfraquecendo em mim
tudo. 

Vivi a tristeza
da solidão maior...
A decepção de reconhecer
nos amigos
os inimigos que não vi...
As caras sádicas
que não notei...
E de tudo um pouco
vivi o pior...
Aqui e ali !                      

Vivi as dores da rejeição...
As magoas da humilhação...
O abandono de todos...
E um mundo só meu...
Revestida da carne fraca
e da sensibilidade aguda
que Deus me deu.                 

Vivi a dor de sentir-me
amputada pela raíz
da minha própria vida ,
para crescer na essência...
Que apesar de todo mal,
não me corrompeu! 
         
Suzette Rizzo _ 12 /2002 
Imagem: Juan Carlos Castagnine -La modelo-Pastel 







Águia Interna
Suzette Rizzo

Minha águia alça vôo, me abandona
na terra embrutecida de amarguras.
Há tempos anda exausta dos anos...
mas encara as dores
das asas machucadas,
do bico partido,
das desavenças de revoada.



Minha águia parte  não  sei pra onde,
quando a noite chega,
deixando pássaros delicados em seu lugar,
no meu amanhecer...
Pássaros pretos brilhando ao sol,
pardais de penas falhadas...
Esses caem,  são tão frágeis, como eu.

Penso e penso nas pequeninas aves...
não sei porque penso tanto!
Em meus sonhos, abro aquelas portinholas 
imitação porta de cela
e espalham-se os pequeninos
escolhendo uma meta...

Tal atitude, trás de volta a força...
e sinto em mim,
a águia interna que revoa.

Suzette Rizzo_ Julho-2oo9