20 de junho de 2014


SONHOS DE PAZ
Suzette Rizzo

Não impeça meu caminho,
eu quero cair na vala,
no abismo.
Não se interponha
e coloque as chaves nas portas,
decidi buscar outro destino.

Não finja esse choro desonesto,
conheço seus temores,
transformam-se em castigo.
Vamos, saia da minha frente,
seja uma vez decente
chegou sua hora de sofrer.
De preferência não deixe nada doer,
pois não vou olhar para trás,
pretendo correr, correr, correr...
Até desmaiar na calçada
ser levada por alguém
pelo atalho do mar.
E lá, afogarei este passado,
enterrarei nas areias
meus sonhos asfixiados.
Chega!
Chega de acordar meus
últimos sonhos,
de viver com meus cães,
solitária, mas em paz.



CREDULIDADE
Suzette Rizzo

Acreditei que quando se arrependesse,
traria de volta o meu sorriso
a lua em minha janela,
o mar em meus sonhos,
o suprir das minhas carências.

Depois, acreditei que quando voltasse,
trouxesse o final da melancolia,
do negrume das tristezas,
e flores pela casa,
em homenagem a nossa consciência.

Acreditei em tantas coisas!
Não senti qualquer verdade,
nem a mesma fortaleza no abraço...
E essas suas mentiras e omissões
mastigaram meu futuro,
envergaram meus poemas
para baixo.


CICLOS...
ou "gritos da alma"
Suzette Rizzo

Gritam neste silencio,
as vidas da minha alma,
todas gravadas e vinculadas aos
meus sonhos de sempre,
nesta longa e fria estrada. 

Impossível voltar atrás,
acertar erros canibalistas,
pirataria...
Não posso mais escorrer
entre as pedras,
almejar o reino que eu não era
e, contudo, seria. 

Posso sim,
caminhar em frente,
apontar para o alto a flecha
do signo em que nasci...
E o resto, o lado ferino, 
pequeno,
deixar para sempre aqui... 

Certamente, 
junto a meus ossos em pó,
alimento das vidas de tudo...
E posso viver mais
um ponto do ciclo
que um dia se fechará,
para  ser novamente, meu inicio.


Suzette Rizzo
Ambição
Suzette Rizzo

Apenas, te queria presente,
fazer-me alívio aos teus flagelos,
exterminar tuas inseguranças,
afastar tua solidão.

Ah! Te queria bem perto,
poder extenuar tuas mágoas,
perdoar tuas falhas, apagar teus medos
realizar teus anseios.

Queria amparar teus passos,
situar em mim teu espaço,
expulsar tuas tensões,
relaxar teu desgaste.

Queria tornar realizável,
esta carência minha de mimar,
quem enche meus olhos de mar
e mistérios que são abraços.

Queria, como eu queria ser,
quem teu coração escolhe...
Para desequilibradamente,
seguir teu rastro !
                    Suzette Rizzo


Alta madrugada
Suzette Rizzo

Chama...
acorda meu sonho,
meu voo...
faz-me sonâmbula, amante,
mulher que morre de amor.

Abro a porta meio adormecida,
é tão tarde!

Mas o que importa é que ele chega,
fazendo do meu corpo a sua cama,
o fim da noite agitada,
o descanso da sua vida.

E canta um laraialara,  repetido
na lembrança,
porém, exibindo o desejo
e, a imensa vontade que o faz amável,
jeito mesmo singular
de dar-me amor.

Acorda-me de vez, tamanha doidice !
Enrolando-se em minhas pernas,
jogando-me pra lá e pra cá
como se eu fosse inflável,
contorcionista,
levezinha e maleável.

Deixo-me levar.
Mal tenho tempo
de gritar esta estúpida paixão.
Adormece em meu peito,
ouvindo meu coração.

Suzette Rizzo





Escavação
Suzette Rizzo

Cavo um buraco na alma
 
para desenterrar vitórias,
existidas talvez, há milênios.
Ou será ilusão?


Toda noite escavo meu poço profundo,
procurando uma vida oposta a esta,
de paz, 
acontecida talvez em outro mundo
menos glutão.
Em mim, apenas a má premonição,
 
desenhando impossibilidade e morte
dos sonhos bons.
E de resto,
nem bastou esfolar  a sola dos pés
nestas décadas
ou vasculhar  a vida para encontrar
 
a ponta do fio da meada.
Esperança vã, me deparar
com uma mera conquista.
Concluo:
 
Algo não quer  que esta alma triunfe
ou exista.