Anoitecer outonal 
Suzette Rizzo 
A tarde ainda amorna o piso
e o céu 
anoitece cravejando brilhos 
à visão que busca 
belezas no infinito.
O friozinho do outono não me preocupa,
os animais sem lar inda não tremem
e adormeço então tranqüila 
quando o sono vem.
Logo mais, na próxima estação, 
meu desassossego pegará corda
assim que o limite que
enxergo acinzentar 
e a terra parecer morta.
Logo, sofrerei, 
quando os verdes se queimarem,
as flores se encolherem do
mau tempo.
Será  preciso buscar o sol 
nos vãos do pensamento.
Por ora, aprecio a brincadeira das crianças,
observo o bronzeado dos meninos da minha
rua
e o sorriso aberto no semblante das pessoas.
Logo mais, 
verei o andar apressado dos trabalhadores
encolhidos, encapuzados,
querendo correr para o aconchego 
dos seus quartos,
aboletar-se sob ralos cobertores.
É então que o sono me abandona
e a alma aflita pensa nos bichos e mendigos,
e pede a Deus com afinco, manhãs de sol.
Odeio invernos, finais de outono,
em que o tempo se faz senhor de mortes
e ri do meu pais entristecido.
Por ora, 
a tarde inda amorna o piso.
Suzette
Rizzo
