15 de novembro de 2017

De Palavras e Silêncios - Por que escrevo? - Fernanda Guimarães

 

Sempre me perguntam, porque escrevo. Em momentos assim, os olhares acariciam-se em palavras que não se sabem expressar. O pulsar rítmico do coração ensaia respostas que traduzam o que desejam minhas letras, quando se permitem alçar voo em busca do horizonte de outro olhar.
Quando o poeta espalma suas mãos, libertando-se em versos, não apenas alinha letras, mas afaga corações. O escritor "usa" a palavra como instrumento de sedução. Falo da sedução no sentido mais amplo que ela possa ter, que é o de encantar, atrair. O escritor vive do olhar do outro, da multiplicação da própria emoção naquele que o contempla.
Penso que a escrita é também uma resposta ao desconhecido íntimo que nos habita a alma e o coração. Escrevemos para manifestarmos o que nos punge e nos incita, assim como para darmos forma ao mundo silencioso que há no dentro de nós.
Percebo o momento da escrita como um ato de profunda solidão, mas também compreendo-o como libertação e inquietação. Libertação, porque nos confere o poder e a opção de expressarmos e/ou compartilharmos nossas emoções, mistérios e silêncios. Inquietação, porque a palavra na maior parte do tempo, revela-se aquém do que sentimos, desejamos, sonhamos ou vivemos. Daí, a busca incessante do escritor: garimpar no veio das letras, palavras que escrevam o além que a inspiração lhe confidencia. Quando a palavra abraça a inspiração do escritor, estabelece-se um diálogo de sussurros entre muitos mundos, como se cada letra, tocasse não apenas o grafite, onde a emoção se deixou espraiar, mas a alma de cada sílaba, onde pulsa o coração do universo.
Quando a palavra deixa o leito das mãos, percorre horizontes inimagináveis. O destino, o porto, o pouso, quem o saberá?

Fernanda Guimarães


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