25 de maio de 2014

A VÓS DO PENSAMENTO
Suzette Rizzo 

Meu pensamento grita,
interrompendo o silêncio
da madrugada.
Grita mais alto que
os sons da saudade,
mais alto que as ondas do mar,
mais alto que o sonho
agora acordado;
Grita a cor do teu olhar.

Meu pensamento deposita
o grito deste amor frustrado,
aos quatro cantos desta noite
ecoando neste quarto.
Meu pensamento não se esconde
da minha alma.
Grita alto o amor espavorido,
roubando-me a noite calma.

Meu pensamento grita apego,
grita segredos,
e grita por todos os meios,
o som da vida que era minha
e se mudou daqui deste frio,
para o seu travesseiro.
Suzette Rizzo
ANALISANDO E DESCOBRINDO

(Daria tudo para ser abduzida por um tempo)... 
Suzette Rizzo

Opostos que não se encaixam,
eis meu convívio neste tempo gasto...
Difícil crer, seja imposição do destino
algo traçado por mim ou por Deus...
Talvez... imenso prazer de perseguição
dos inimigos abstratos !

Vejo vampiros em meu quarto,
mesmo tendo um coração voltado
as luzes mais ofuscantes...
Sinto a gravidade destes ares,
a combustão e o naufrágio
em meu peito fragmentado !

E a tudo fiz para fugir das trevas,
por mais prazerosas
que um dia me pareceram...
Pois esse tal prazer misturava-se
a uma inquietação chamejante...
E isso era mau... era a morte
e doía... como um rasgo
lacerante ! 

Agora, repensando aquele prazer
mundano
por um ínfimo terráqueo
dos tempos de Capela,
percebo a idoneidade da minha alma...
Sinto a culpa roer a carne,
o remorso matar de angustia
e descubro a razão maior,
deste atual encarne !

Suzette Rizzo


Divina Melodia
Suzette Rizzo

Ouço a melodia do universo
perfeita e clara,
adocicada como amor em versos.
Na lua tocam flauta
e as estrelas fazem pauta
para as notas inspiradas.
Ouço a melodia eterna,
sinfonia das luzes que bailam
ao movimento do infinito.



É a melhor das composições,
o melhor dos acordes,
maior que os concertos daqui
por mais divinos.
Ouço-a em meus ouvidos
quando a alma relaxa,
aspira e respira
com suas fosforescentes guelras
e, por instantes,
desliza como os peixes do oceano,
afastada dos atritos
e conflitos desta terra.

Suzette Rizzo

31 07 06
Quadro de Nelson Jaroslavsky

Incubação



Fértil de sentimentos
concebo imposta e acuada,
um a um esses filhos,
enchendo a barriga da alma
de desprazeres e tormentos.
Não são lindos os meus filhos,
nem possuem colorido.
São descorados, insípidos,
desprovidos de forma
e fermentam dor moral...
Crescem com ares de insatisfação total
desde os tempos fetais.


Abasteço a alma, o peito,
a vida dessa cria que não busco,
de outros e mais outros sentimentos
que surgem por acaso,
sem coito, sem gozo...
involuntariamente.
Ah! Odeio esses filhos incubados,
embutidos, mal-vindos, 
versos tolos impingidos 
subitamente.

Suzette Rizzo




A MENINA EVANGÉLICA
Suzette Rizzo

Era dia de faxina...
A filha da diarista, uma menina linda,
de cachos loiros, cabelos longos,
entrou em meu quarto.
Viu, no porta retrato, o sudário sofrido 
do Cristo que me acompanha 
e, exclamou:
-Nossa, o demônio!


E continuou:
-Você não sabe? isso é pecado.
Não farás, nem adorarás,
imagens do que esta no céu...
e foi Deus quem ordenou
(antes de ser Jesus).
Expliquei então, que precisava vê-lo
quando conversava, 
quando fazia preces... 
e ela quase gritou:
-Converse então, com a cruz!
Mas tire isso daí, é demônio e não Jesus.

E a menina evangélica, saiu do meu quarto,
fazendo o sinal da cruz.
Suzette Rizzo
2003


Pesadelo
Suzette Rizzo 

Areia úmida, movediça
na escuridão soturna,
onde moram corpos mortos em pó...
E o espírito meu, tão covarde
a ouvir tambores (inexistentes)?
de além do oceano...

Pensamento proibido,
rompido pelo estampido
da lembrança
de um sonho destruído,
por momentos assassinos.

Areia de outono
que o vento esparrama
turvando a vista,
afligindo a alma encolhida,
nesta sexta feira molhada,
em que a noite desce pelas beiradas
das pedras cinzentas da praia...

Assolando mais e mais
a essência exausta
das  paginas nubladas.

Prossegue o pesadelo!
Cobre-me a noite fria
do céu sem candeias
e o vento assobia com voz de mar...
Areia esfola fere a carne,
presenteia-me da noite feia
chamando a alma que reluta...

A nevoa arde e cega a vista
e eu já não prefiro ser levada, 
pra longe das pedras da vida
nas asas do surreal