6 de março de 2018

Sola da vida - Suzette Rizzo


      



Vida nefasta
estrada inteira!
Lado a lado comigo,
sonho e real
permitindo os contras do pensar,
emoções amarrotadas
e a corrida cansativa
ao mel da vida.

Estéril!
De mim não nascem flores,
esperanças verdejantes,
apenas rondam aves carniceiras.
De mim não exala vibração
e fechado está o jardim das roseiras...
Rondam, somente,
malefícios de primeira.

Nem o solitário coração
encontra uma réstia de luz
e meus olhos se enterram qual avestruz
dentro da terra que ingere meus passos.
Meus olhos buscam tons azuis,
mas o céu acinzenta-se
num pestanejar de mago.

Vejo-me em sonhos e nem acredito.
Serei aquilo?
Aquela, na estrada larga,
minúscula qual formiga?
Nem adiantaria pedir socorro...
Um pé sempre atropela
e o outro assassina.

Depois... vem um anjo
e leva a alma espremida
na sola da vida.

Suzette Rizzo







Prazeres e desprazeres – Suzette Rizzo







Vontades
são aquelas ansiedades
que acordam fantasias...

Fantasias
são aquelas imagens
que brilham
e num relance  se dissipam.

Vida é um pouco disso!
Morte é tudo isso!

Suzette Rizzo



Uvas doces - Suzette Rizzo




Puro delírio, pensar em nós.
Amolece, inspira,
anoitece verão...

mas, nada, nada mesmo,
hoje se encaixa 
na minha ilusão. 

Alguns passos beira mar,
pousar os olhos
na preguiça das águas

oscilando sobre elas
o luar,
sempre trás saudade, só isso. 

Mas a luz das estrelas
desmancha o cenário,

assim como odores e cores
da natureza
nublam tudo de lágrimas.

Não resolve pensar
cachos de uva moscatel
que gostavas.
 
Tentativa vã,
adoçar pesares
sempre ativos na memória

Nem mesmo resolve
pensar matizes,
alucinações mais claras...

Tristeza e mágoa
acinzentam entranhas,
ferem praias azuladas.

Suzette Rizzo



Antes era assim: - Suzette Rizzo




As palavras brotavam
como nascentes de águas claras,
como que sopradas
por anjos poetas.

Chegavam aos pensamentos
aglomerado de maravilhas
que eu mesma
desconhecia.

Antes, eu amava!
Acontecia deslumbramento.
Lambuzava-me de sentimentos,
enfastiava os sentidos

e, aquele sentir
supervisionava meus atos,
todos revestidos
da cor do amor.

Agora, não encontro
nem mesmo a senha
que reabre as portas
da imaturidade.

Daí esta saudade!

De ter visto tudo com outros olhos,
sentido além dos sentidos
poetado mais a essência
e menos o destino

Suzette Rizzo – 2001