22 de maio de 2017

Pós reclusão


Por um tempo, me esqueci naquelas madrugadas,
cega ao resto,
os sonhos cravados nos olhos,
deslembrando o cheiro de mofo,
os anos toscos...
Por um tempo me esqueci de ser quem era,
quem fui,
tentando alimentar a alma de sonhos
menos foscos.
Por um tempo vivi caminhando vagarosamente
sob chuvas de inverno e frio arrepiante,
acolhida pelo olhar daquele ser que se adaptava ao meu,
e eu como nunca, por inteiro confiante.
Por um tempo penso ter vivido abraçada
a sonhos mutantes.



Por um tempo permaneci nada vigilante!
Mas, nos tempos próximos, expectorei de vez,
esta e outras
ilusões alucinantes. 

Suzette Rizzo



Densidades



Toquei a escuridão sentindo o pavor
de encontrar fantasmas,
era criança quando isso se dava,
quando esqueciam meus medos
e as luzes se apagavam.
Hoje, busco contornos,
busco rostos, busco laços
e nada sinto neste espaço
abstrato ou físico.








Na escuridão da madrugada,
parecemos ambas desencarnadas,
sem mais aguçados sentidos,
muito menos tato. 

Suzette Rizzo




Aflições



Meu cachorro late seguidamente
e a noite grita um cala boca
grosso como trovão.
Da boca dos vizinhos, parece ouço
o mais feio palavrão.
Meu cachorro late e meu coração bate
loucamente...
Porque as paredes também latem,
as portas batem,
e o vento uiva,
enquanto a alma por ti se debate,
estridentemente.

Suzette Rizzo






Sem ar



Usei tanto meu pulmão,
corri da vida como um coelho,
amassei meus joelhos
de tanto curvar no chão.
Aspirei dias melhores,
respirei puro bolor,
tossi por várias causas,
corri de tudo na vida,
mesmo em feridas.
Ressequei os pulmões
de tantas emoções
e meus  oitenta por cento liquido
vazou aos borbotões.
Usei tanto meus pulmões!
Chorei por vis recordações!

Suzette Rizzo