16 de fevereiro de 2014

Nova traição
Suzette Rizzo

Antes da desilusão ele sempre vinha.
Os sonhos brotavam luzes no teto do quarto
e eu permanecia insone, pensativa,
desenroscando a linha.
Antes das revelações eu me expunha
e me sentia quase única.
Não foram muitas idas e vindas,
mas foram demais suspeitas
e a ponte se quebrou.
Antes da desilusão senti a preguiça do amor
tomando-me na cama...
Agora me sinto um pássaro noturno
chorando dor.
Não posso ter incertezas
nem quero ser rotulada sabe-se lá de que
quando o seu coração se abre como um leque
e refresca-se com palavras de torpor.
Antes eu via um cajueiro, ouvia o pio das corujas
sentia o vento a qualquer hora...
Agora sou apenas uma tripulante que se afoga
em meio ao temporal


Uivos meus
Suzette Rizzo


Pudesse não ouvir
meus uivos interiores
pelas insones madrugadas,
pudesse parar de comparar
meus sons 
com latidos de socorro,

não relembrar as mesmas magoas,
pudesse SANGRÁ-LAS
não mais trazer para o meu corpo
as doenças da alma...
Além disso,
pudesse eu modificar
meu jeito tolo de ser
e por tudo e qualquer coisa, sofrer.
Parar de escrever
e pensar tristezas,
estancar o pus das feridas,
ter muita coragem,
decifrar enigmas.
Cansei de morrer um pouco
mais que todos
nesse decorrer  da vida
que é a jato e é de fato,
só passagem...





Deslumbre
Suzette  Rizzo

Essa liquidez do mar
cercando o endurecido mundo,
atrai meus olhos,
deslumbra-me a alma
colore os versos que se formam
nesta calma.



Sou poeta e poeta ama o mar!
Discretamente decoro e declamo
turvando a tela azulada,
sentindo a lágrima parada
e a brisa crepuscular.
Como não descrever sensações?
Poeta ama vislumbrar!


Apartamento 33
(Traição)
Suzette Rizzo

Penso nas janelas... no panorama...
no céu salpicado de estrelas !
Penso nele ouvindo jazz,
copo de whisky na mesinha de
centro,
fixo num sonho qualquer...

Sonho firme, de rocha
ou frágil feito uma bolha,
oculto, porém, por trás das pupilas,
exceto pelo pulsar da veia
acusadora...
E não fosse esse pormenor,
estaria eu, tranqüila!

Jamais deixou transparecer
tristeza ou alegria,
ansiedade, stress, depressão,
barco a deriva...
Apenas o olhar vagando, distante,
fixo no som, no sonho...
talvez um rosto ou um fato,
qualquer momento de vida ! 

Depois eu soube...
não quis dividir-se.
Depois compreendi
que a minha presença seria elo
e ele queria apagar
para sempre, tudo ! 

Naquele novo sonho
não cabia mais nada
exceto o futuro !
E o futuro se fez...
e morreu dos seus olhos
como o passado.
E as janelas daquele apartamento,
testemunharam o principio e o final.

Porque o tempo escorre
nossas vidas,
o futuro chega e se esvai !
Suzette Rizzo
13/09/2003