28 de dezembro de 2017

Oração ao Pai - Suzette Rizzo



Obrigada Pai, 
pela estrada escorregadia,
em que aprendi que o cair
é a Graça do levantar.
Obrigada pelo sol, pelo quintal,
por cada animal recolhido,
alegria angelical.
Obrigada Pai, por este dia,
por cada bom pensamento,
pela ausência de temporal.
Obrigada Pai, 
pelos poucos amigos,
por aqueles riscados,
pelo bem recebido.
Obrigada Pai, por mais esta manhã
mesmo solitária,
por esta oração que escrevi, 
ao som dos seus Bem-te vis.

Suzette Rizzo - Thursday, December 28, 2017





NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI - EDUARDO ALVES DA COSTA



(Este poema não é de Vladimir Maiakóvski 
como foi espalhado na net.
Autor: Eduardo Alves Da Costa, escrito nos anos 70 durante a ditadura) 

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

“EDUARDO ALVES DA COSTA é autor de alguns dos maiores e mais belos poemas da língua portuguesa. O fragmento de um deles, No Caminho, com Maiakóvski, sem dúvida o mais popular — transformado em bandeira contra a ditadura nos anos 70, em pôster, cartões postais, estampa de camiseta da campanha Diretas Já, mensagem massificada na Internet — já foi conhecido, em todo o Brasil, como o poema mais famoso e representativo de... Vladimir Maiakóvski, o poeta russo. O equívoco, que durou muitos anos, é mais uma vez corrigido neste livro” (...)




Nostalgia - Suzette Rizzo



Saudade da fartura de abraços,
dos feriados prolongados,
da rotina que une,
do beijo acostumado,
da noite em que vimos de perto
a luz do vagalume.
Marquei mil páginas da
nossa história,
os melhores atos, noites, papos,
que pena encerrados em pouco tempo.
Saudade viu?
Dos seus cachos alourados,
do corpo acolhedor dos meus pavores
nos maus momentos.
Saudade que alenta o presente tempo,
ameniza sempre,
meu circo dos horrores.
Suzette Rizzo




Huberto Rohden






Quem é iluminado por dentro,
parece escuro aos olhos do mundo.
Quem progride interiormente,
parece ser um retrógrado.
Quem é auto realizado,
parece um homem imprestável.
Quem segue a luz interna,
parece uma negação para o mundo.
Quem se conserva puro,
parece um bobo e simplório.
Quem é paciente e tolerante,
parece um sujeito sem caráter.
Quem vive de acordo com o seu Eu espiritual,
passa por um homem enigmático. 
Huberto Rohden