19 de novembro de 2014

Vivissecção

Vivissecção
e outras barbáries
(Protesto)
Suzette Rizzo

Estrelas ignoradas,
terra azul mal freqüentada
e só o que vejo,
são esses olhares grudados
no centro cavado, deste imundo buraco,
habitado por seres malvados,
infectando o bonito espaço .

O silêncio canta e a lua quase dança
no mesmo compasso.
As estrelas reluzem no mesmo passo
e Deus, lá do seu trono
distribui amoroso abraço
a todos os seres criados
 para este nosso mundo.

Mas ninguém nota
ou mesmo cuida do que é seu.
São precisos milhares de movimentos
esclarecedores,
e nem assim a consciência se abre.
E aquele animalzinho indefeso
ou vai pra mesa dos cientistas e vivo,
é retalhado
ou para a câmara de gás das prefeituras.
Ninguém sabe ou quer saber como,
quantos deles vão morrer.

E Deus meneia a cabeça
tristemente.
Estão matando o amor,
exterminando o bem que Ele nos fez
colocando sobre esta morada,
almas estagiárias, aprendizes,
e o que quase ninguém sabe,
 futuros seres humanos;
sem mais direito a crescer interiormente
seu grau evolutivo,
ou a viver sem dor.

É por isso que o homem nasce revoltado
e como homem depois revida,
o que a memória grita.
É por isso que o terráqueo mata,
e traz a alma covarde
para a vida.
É por isso que o homem outrora foi puro,
e um anjo,
 inicia seu ciclo, com patas.

Você aí, mancomunado com essa atrocidade,
acha que eles não sentem,
não têm medo,
não gritam a Deus por socorro
esses seres indefesos?
Então viva nas ruas, sem lar e sem dono...
com fome, com sede, com medo,
chutado, enxovalhado sem saber porque;
Viva por cima de outros seres,
num cercado de arame,
cheio de feridas, doenças,
entregue ao vilão humano.

E depois, debata-se, pouco importa,
e sinta a lâmina rasgar-lhe a carne,

extrair seus órgãos
e a dor infinita que lhe tira a vida.
E morra, como eles morrem,
gritando de dor e por piedade.
E depois, ouça as palmas de viva o homem,
esse troglodita,
quando o inferno comer-lhe as vísceras.


E aqueles que sofreram,
vertendo lágrimas dolorosas...
Aqueles que apunhalam-se a cada notícia
assassina,
esses serão acarinhados,
pelos macios anjinhos
de focinhos molhados.

Suzette Rizzo

Penso no mar



Penso no mar
Suzette Rizzo 

Penso no mar
apagando o fogo que me cerca.
Fogo mau, fogo ardido,
não das loucas paixões,
mas dos  martírios.

Penso nas ondas brancas,
na frescura das águas

para acalmar a dor da alma
e a cor turva da visão
alcançando nada.

Penso na dor que sinto,
dor do que vai e não volta,
dor que arrasta meu corpo... 
e sinto tanta raiva de ter sido
fantasiosa como fui.

Penso no mar...
Que inveja da onda que se dilui!

Meu poeta preferido

Meu poeta preferido
Suzette Rizzo

Abriu os cortinados que separam
nossas dimensões,
para mostrar-me o sol.
Curvou-se até onde me sentava,
exausta de tanto sofrimento
e beijou-me a testa.

E eu lhe disse:
Preciso escrever, me ajude!
E milhões de estrelinhas
brilharam meu quarto
como um desenho animado.

Peguei a caneta, o caderno
e lentamente, como se acariciasse
a folha em branco, escrevi:
"A imaginação desenha formas
de todas as coisas...
traga-as para junto de ti,
deixe que formem palavras,
transcreve-as."

Entendi o recado admirando
as estrelas pequeninas,
acompanhando o vulto dele
que se distanciava,
deixando como lembrança
o beijo na testa,
o sorriso aberto,
a idéia e uma esperança ansiosa,
do sol mostrado.

Tenho muita sorte!
Sou a neta desse espírito amigo,
risonho,
sempre poeta em minhas lembranças,
espírito decente e alentador,
deste meu tempo assustador,
que fez-me presa,
das suas correntes.

“O poeta não morre, transcende”!

Meu poeta

Meu poeta

Suzette Rizzo

Poetas sensíveis,
poetas loucos...
todos poetas e não são poucos.
Alguns rastejam nesta terra
outros escrevem escólios
mas nem todos
vêem astros luminosos.

Poetas são alvo, chamariz,
forças motriz,
‘uns envoltos em placenta’
mas todos escrevedores
do que a alma se alimenta.

Meu poeta é arco-íris, vibração, 
a estrela fixa do meu céu
e possui a graça de cantar seus versos,
penetrar o profundo da alma e soltá-la
livremente no papel.

O meu poeta é puro-mel !

Meu poeta é afinidade, afinação,
minha maior satisfação;
Orgulha-se do seu poema 
quando o entrega em minhas mãos.  
O meu poeta encarna deuses
faísca como sol ...
não refreia as palavras
e sempre mela de mel
esta mulher encantada 
Suzette Rizzo