23 de outubro de 2017

Do livro: Mentes Ansiosas - de Ana Beatriz Barbosa Silva



Quer saber de uma coisa? Todo mundo tem medo, uns têm medinhos, outros medões, mas no fundo tudo é medo puro e simples. Sentimos medo de manhã, às vezes à tarde e muito mais à noite, não necessariamente nessa ordem. Medo de não ver o pôr do sol, de não poder ir à praia no domingo, de jogar a bola para fora do gol, da areia quente, de que o chope esquente ou a onda se arrebente. Medo de cair, de sair, de se divertir, da felicidade, da fatalidade, da bala perdida, da fome, de ter e de perder, seja lá o que for!  Medo de trair e ser traído, de perder o grande amor, de amar e não ser amado, de dizer adeus, de partir, de mudar, de renovar, de dizer eu te amo! Medo de bruxa, do escuro, do bicho-papão, do vento, da ventania, do relâmpago e do trovão. Medo da morte: a sua, a do seu amigo, a do seu filho e a dos seus pais. Medo de esquecer o que foi bom, de enlouquecer, de não viver, do prazer, de querer sempre mais e nunca mais parar de querer. Medo do terror, dos terroristas, dos que manipulam os horrores humanos, dos que adoram o poder, de não poder com esse tipo de gente. Medo de envelhecer, das rugas, dos cabelos brancos, da osteoporose, da menopausa, da calvície, de virar pó e da certeza de que a vida é uma só. Medo de experimentar coisas novas, umas melhores e outras piores, mas o que vale é o movimento, somente o que está morto não se move. Medo de olhar no espelho, do fracasso, da decadência, da não reação, do marasmo, da acomodação. Medo de falar a verdade, de não ter verdades pelas quais lutar, de magoar, de brigar, de perdoar. Medo de não ter o filho desejado, de não vê-lo crescer, de vê-lo adoecer, de não vê-lo feliz. Medo do chefe que grita, que não elogia, que não explica, que não brinca, que só xinga, que assedia. Medo da solidão, da rejeição, do telefone que não toca, da palavra não dita, do “mico” não pago, da alucinação da paixão, do beijo não roubado, da dor do amor não correspondido, das velas não apagadas, do grito não ecoado depois do sexo em perfeita comunhão. Medo da diferença, da indiferença, da arrogância, do desprezo, da ignorância, do preconceito, do politicamente correto, do jeitinho brasileiro, da corrupção, da inflação, da humilhação, da falta de profissionalismo dos políticos, da inveja, da tristeza, das escolhas, do seu corpo, do passado, do presente e do futuro. Medo de gastrite, otite, sinusite, faringite, meningite, hepatite, celulite e tudo o que é “ite”. Medo da responsabilidade, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do recomeço, de cantar, de dançar, das crenças, das encrencas, de dar e receber opinião, de ter voz e voto, de não ter voz e voto, de aturar gente de má índole, de má vontade e sem educação. Medo de casar, de se divorciar, de casar de novo, de não poder mais voltar. Medo de se perder, de endurecer o coração, de não sonhar e de nunca mais se achar. Medo de errar, de não ter o que dizer, de falar demais, de se calar diante da covardia, de engolir o choro da emoção, de não crer e não ter fé em Deus, em si e na vida. Medo da enchente, de não gostar de gente, do ladrão, de não ser o único e virar nenhum na multidão. Medo de pensar “inho” e acabar tendo uma vidinha cercada de gentinha, de perder o emprego, de nunca mudar de emprego por puro medo da mudança, medo da mediocridade e da maldade. Medo da ditadura, do neoliberalismo, do comunismo, do nazismo, do radicalismo, da guerra, da bomba de Hiroshima, de Nagasaki, do tsunami, do Katrina, do terremoto, da chacina, da rebelião, do vandalismo, da escravidão, da sofreguidão, da falta de poesia, da realidade nua e crua. E, por fim, o medo de não ter coragem para enfrentar tudo isso, mesmo que isso não tenha fim...  
Autora: Ana Beatriz Barbosa Silva






Estampas da alma - Suzette Rizzo


Não sai do pensamento
certas cenas presenciadas com dor
E acordo assim, a pensar tristezas,
tentando dissipá-las da minha cabeça.

Nada poético os capítulos dos meus dias,
nenhum interesse ao folhar algum livro,
buscar algo na internet
ou viver meu ritual tranquilo.

Procuro amenidades a esta impressa dor
e abraço mais e mais a crença na vida eterna.
Arrisco esvair meu reservado mundo interior...
Mascarar o que me resta.


Suzette Rizzo -Sunday, May 27, 2012


Indagação - Suzette Rizzo






Por ele, fiz o que pude e não
nos tempos de privação.
Por ele, vaguei madrugadas,
enfrentei ruas perigosas,
querendo salvá-lo das contravenções.
Fiz de tudo... 
E ele, por que não se cuidou?
Não correu dos riscos, da má vida,
não se aquietou em seu canto,
não aceitou a provação merecida?
Foi uma grande punição a dele!
E pergunto aos seres dos céus
desde o triste acontecido,
por que ele se deixou morrer,
por que matou meu sonho paradisíaco!
Suzette Rizzo




Posturas - Suzette Rizzo






Pareço sempre alma terminal
atirada no lodaçal.
Uma máscara dramática,
par da comedia imortal.
Vitrines, espelhos...
quero-os longe do meu olhar sem dono
e nem me olhem os inimigos
quando eu tiver que passar
em frente aos “peritos”...
em dilatar desgraças.

Enquanto eu for caricatura
deste tempo nocivo 
não quero cumprimentos,
falsos elogios,
críticas maldosas,
comentários idiotas...
muito menos ares de censura
e olhares de acupuntura
sobre antigas arranhaduras
e feridas  similares.

Suzette Rizzo - Tuesday, May 22, 2012


Ligeira explicação - Suzette Rizzo



Duro é recomeçar 
quando as pernas estão cansadas
e a cabeça machucada das tantas magoas,
consequência de tudo que enxovalhou a alma.
Alma é única e o tempo caminhado
não desobriga aos consertos,
nem coloca enxertos nos vãos que a vida cavou.
Por isso tentei o que pude sem resultados,
por isso sofro, penso nos erros,
por isso a alma encharcada não vazou
e solitária permaneci.
Entende agora porque não sorrio
quando ris?
Suzette Rizzo - Monday, June 04, 2012