10 de dezembro de 2014

Amor doído


Amor doído
Suzette Rizzo


Todas as lágrimas infelizes
chorei pelos cantos
de um bar da cidade.
Chorei a honestidade do meu coração,
(tamanha raiva)
e as dores da rejeição
entre os drinks da noitada.


E chorei o frio das palavras,
a saudade viciada
e por antecipação.
E agora, choro o final e as explosões,
cada momento perdido,
cada sonho escondido
sob as minhas ilusões.
Choro as noites que não me dei,
desejos que não saciei,
o mal que eu mesma me fiz.
E morro nesta tentativa inútil
de esquecer,
o quanto preciso do amor desse homem
que em tempo algum me quis.
Suzette Rizzo



Passos


Passos
Suzette Rizzo

Já sai da estrada reta,
enveredei atalhos frios,
enrosquei-me em braços quentes,
vazios de sentimentos.
Já caí no poço escuro,
estive excluída de mim,
atirando meus princípios
ao relento.

Já postei minhas mãos pelas igrejas,
percorrendo imagens cansadas
de tantos segredos.


Já exclui sonhos puros da cabeça
e um dia, um novembro gelado,
passou por mim um mau pensar,
previ a morte do ser amado.

Já busquei anjos ocultos em meu quarto,
bifurquei tantos atalhos...
Já fui deusa de um bastardo,
musa de compositor,
deitei no piano de um deles
e lá mesmo fiz amor.

Percorri anos honestos,
inventei  pratos franceses,
já cantei pelos banheiros
já chorei por corredores,
fiz meu circo dos horrores.

Já vivi a minha vida,
já vivi a minha morte...
tive azar,  já tive sorte... 
Com anjos e gárgulas feias
vestindo carnes de príncipes
e roupas em andrajos.

Já morri milhões de vezes,
já sofri fases inteiras,
emagreci de tanto ingerir
o amargor desses tormentos.
Hoje, vejo sombras distorcidas
e ouço o gritar dos ventos.

Suzette Rizzo
2004 

<>Respeitem os direitos autorais<>

Incubação


Incubação 
Suzette Rizzo


Fértil de sentimentos
concebo imposta e acuada,
um a um esses filhos,
enchendo a barriga da alma
de desprazeres e tormentos.


Não são lindos os meus filhos,
nem possuem cor.
São descorados, insípidos,
desprovidos de forma
e fermentam muita dor ...
(Crescem com ares de insatisfação total
desde os tempos fetais).

Abasteço a alma, o peito,
a vida dessa cria que não busco,
de outros e mais outros sentimentos
que surgem por acaso,
sem coito, sem gozo...
involuntariamente.

Ah! Odeio esses filhos incubados,
embutidos,
mal-vindos,
impingidos subitamente.