14 de outubro de 2015

Correntes


Correntes
Suzette Rizzo


Acorrentada sim,
a este destino de setas afiadas
e laminas amoladas,
podando amiúde a parte boa
e o frescor da esperança
por hora tombada






Impasse absurdo!
Sinto-me acorrentada
ao portão do paraíso,
vendo a vida existir a três passos
e eu... assediada pelo diabo

E assim, bloqueada pela vida,
que não permite soltura
apesar do livre arbítrio,
ora inibo a vontade de voar alturas
ora sinto impulsos 
de me espatifar no abismo






13 de outubro de 2015

Perspectivas




Perspectivas
Suzette Rizzo


Quisera não apenas
pensar e escrever romantismos,
mas colher frutos plantados,
molhar meus pés num rio
calmo,
sobretudo, ousar e ouvir o cosmo,
meu maior fascínio.





Quisera desviar carrancas que só eu vejo,
apagar da terra o demonismo,
espalhar estrelas pelo caminho
que ainda trilho.
Queria azuis somente!
Desmanchar da alma a sensação de cruz,
abraçar a luz.





Incubação


Incubação 
Suzette Rizzo 

Fértil de sentimentos
concebo imposta e acuada,
um a um esses filhos,
enchendo a barriga da alma
de desprazeres e tormentos.

Não são lindos os meus filhos,
nem possuem cor.
São descorados, insípidos,
desprovidos de forma
e fermentam muita dor ...
(Crescem com ares de insatisfação total
desde os tempos fetais).


Abasteço a alma, o peito,
a vida dessa cria que não busco,
de outros e mais outros sentimentos
que surgem por acaso,
sem coito, sem gozo...
involuntariamente.

Ah! Odeio esses filhos incubados,
embutidos,
mal-vindos,
impingidos subitamente.




Tudo é possível




Tudo é possível
Suzette Rizzo

É possível sobreviver aos trancos,
acostumar-se a falta de amigos
e, se bastar a escrita,
é possível sonhar sem mais ideais
ou caminhar sem meta.
Tudo é possível!
Desde que o sofrimento
não devaste da alma a fé
e a alma não se abasteça de vazios.
Tudo é possível com crença
e a solidão pode ser
sustentáculo do poema.


As manhas acontecem,
os pássaros cantam,
qualquer passado enobrece,
qualquer poema enaltece,
qualquer vento arrasta sentimentos,
qualquer água lava tormentos,
qualquer vida dilata e  rima,
qualquer coração trás poema.
É só querer dividir,
estar dentro de si,
escancarar o portal do dom,
deixar o secreto fluir.
Sou poeta assim.
Parindo meus sentimentos
com ou sem dor,
alimentando a mel  o prazer de ter
esses filhos de mim.
Suzette Rizzo


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12 de outubro de 2015

Anti-repressão


Anti-repressão
Suzette Rizzo

Não creio na falsa bondade,
na chamada amizade,
não creio nas escrituras,
naquilo que é pregado.
Não creio no computado
há séculos reprisado,
contudo, creio no holocausto conseqüência
de sangrento e oculto passado


Não reprimam minhas idéias variadas,
por eu não ter crenças alienadas
preferir meu lado filosofo, liberto
da mente nunca algemada.
Meu espírito alcança a vastidão,
segura outras mãos,
paira em sonhos no desconhecido.
Porém, nenhum fato anti-horário
descrito em livros seculares,
encontrei sentença  que me obrigasse
a crer em disparates doutrinários.
Há de haver um final
e certamente um recomeço
após a implosão deste mundo...
Espero não haja,
nenhum vestígio do desintegrado,
bom seria... um reinicio mais sábio.




Contaminação (no bom sentido)



Contaminação (no bom sentido)
Suzette Rizzo


Escrevo porque escrevo e não me importo,
sejam meus versos para alguns, tolices.
Escrevo porque palavras fazem mal
sufocadas,
se bem que  nem mesmo a tosse
expulse  o pó desta alma.
Escrevo para cantar o amor, 
as síndromes, a dor de amar...
por vezes  expulsar em versos
a tristeza do mundo cão,
deste penoso chão...
E me transformo até
em meu próprio tira manchas
e mesmo não sendo salamandra
ardo-me em chamas.



Contudo, o que realmente gostaria,
seria contaminar de poesia... 
Securas da alma humana






11 de outubro de 2015

Será que saudade morre?


                                             

Será que saudade morre?
Suzette Rizzo

Quanta saudade do amor
que transforma tempestade
em noite linda!
Amor que veste a alma de alegria,
a boca de sorrisos
e o pulmão de ares limpos!

Amei tanto em minha vida!
Perdi medos, corri riscos,
vi o céu em cada teto,
conversei com anjos discretos,
no paraíso dos meus sentidos!



Quanta saudade do amor!
Que nasceu de areia
e se auto-destruiu,
vazando das minhas veias,
o sentir que se esvaiu.

Quanta saudade da poesia
que vinha não sei de onde
e mágica, acontecia;
vestindo as noites  do luar
que o sonho atiça.

Quanta saudade das cores,
das tardes refletindo o crepúsculo, 
em teus olhos claros.

Será que um dia esta saudade também morrerá,
assim como morreu o mais lindo sentimento,
deixando meu peito inapto?





4 de outubro de 2015

Cronologia



Cronologia
Suzette Rizzo

Completo a tela da vida,
coloco a ultima peça
deste quebra cabeças
em seu devido lugar.
Agora sei, agora acordei,
agora piso em terra firme,
caio na realidade de ter feito
tudo errado neste filme.
Quisera alguém penetrasse
em meu silencio,
arrancasse de mim esta dor
de não ter tempo.
Vida ousada!
Abateu-me a cada dia
fez desmanche desta alma,
apagará depois de amanhã
minha cronologia

Sunday, October 04, 2015







1 de outubro de 2015

Gabriel M Ribeiro * Suzette Rizzo



C A I S
gabriel m. ribeiro 


nunca percebi quando estive aí, 
se quando colidiram os nossos olhares, 
ou no dia em que manipulamos nosso adeus. 
nunca conclui que águas foram estas, 
se a de um mar se abrindo profético a um amor, 
ou uma tormenta inundando o coração  cigano.




nunca compreendi que cais foi este, 
se o porto esperado de muitas esperanças, 
ou o terminal indesejado de todos os 
sonhos. 
nunca entendi que distância foi esta, 
se o transcurso necessário à felicidade, 
ou o calvário nefasto das saudades. 
nunca percebi estas estacas de madeira, 
se prendiam almas no fundo do lago 
ou se procuravam evaporar com as águas. 
nunca concebi a vida passadiça deste cais, 
se foi a exata medida da nossa chegada, 
ou a métrica desesperada da minha 
partida. 

gabriel m. ribeiro
- 12 / 08 / 04

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C A I S

(SEDUÇÃO)
Suzette Rizzo

Não sei se o lago seduz
ou são teus olhos azuis.
Não sei se a vida é do cais,
ou se estas horas são vitais.
Só sei da alma das águas,
acalmando esta festa alvoroço
no meu pulsar.

Não sei se o lago dopa-me
ou se tua poesia hipnotiza.
Não sei quanto tempo!
Mas afundo-me nestes momentos,
revelando cada um,
nos filmes do pensamento.

E quando a pressão das mãos aumenta,
e o corpo amolece entorpecido
de tanto sentimento,
o revolver das límpidas águas
acompanha o compasso da alma.  
invadindo de amor o cais...

E o píer, fingindo inércia,
espreita os casais. 

Suzette Rizzo
10 08 2004









Paulo Wainberg * Reino da felicidade






Reino da felicidade
Paulo Wainberg

No Reino da Felicidade, tudo é criança. O vermelho é vermelho e o branco brilha. O problema se resolve, a dor não machuca e é sempre hora de brincar. A gargalhada da menina é o espanto do menino, as vozes são lindas e as nuvens também, mesmo as que chovem.
No Reino da Felicidade a maldade não tem vez, todos são heróis e a ternura flutua sobre as pedras. O sorvete é mais gostoso e a música é o assombro do medo, Carlos ama Martha e Martha ama Carlos.
No Reino da Felicidade, a vida não se discute.

Paulo Wainberg 





Nel Meirelles / Suzette Rizzo



ESPERA
Nel Meirelles

vou ficar sentado na borda do arco-íris.
vou ver em cada estrela a única estrela que existe.
vou desnudar as cores
e fazer delas meu verde-azul-esperança.
vou escrever em pedaços
todos os recantos do meu coração,
embrulhar em papel de horizonte
e te dar de presente.
no passado ou no presente.

*Nel Meirelles*
25 01 2005



JÁ TE OUVI...
Suzette Rizzo

e descerei numa nuvem cor-de-rosa,
carregada de estrelinhas brancas
para enfeitar teu arco-íris
de novas esperanças.
Depois, molharemos nossos pés beira-mar
sob a chuva de verão:
O menino que és e eu.
E como duas crianças
cataremos conchinhas de sonhos.
Sonhos poéticos... apenas sonhos,
em que o tempo do verbo
não conta !

*Suzette Rizzo*
25 01 2005