(Este poema não é de Vladimir
Maiakóvski
como foi espalhado na net.
Autor: Eduardo Alves Da Costa, escrito nos anos 70
durante a ditadura)
Assim como a criança
humildemente afaga
a
imagem do herói,
assim
me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não
importa o que me possa acontecer
por
andar ombro a ombro
com
um poeta soviético.
Lendo
teus versos,
aprendi
a ter coragem.
Tu
sabes,
conheces
melhor do que eu
a
velha história.
Na
primeira noite eles se aproximam
e
roubam uma flor
do nosso jardim.
E
não dizemos nada.
Na
segunda noite, já não se escondem:
pisam
as flores,
matam
nosso cão,
e
não dizemos nada.
Até
que um dia,
o
mais frágil deles
entra
sozinho e nossa casa,
rouba-nos
a luz e,
conhecendo
nosso medo,
arranca-nos
a voz da garganta.
E já
não podemos dizer nada.
Nos
dias que correm
a
ninguém é dado
repousar
a cabeça
alheia
ao terror.
Os
humildes baixam a cerviz:
e
nós, que não temos pacto algum
com
os senhores do mundo,
por
temor nos calamos.
No
silêncio de meu quarto
a
ousadia me afogueia as faces
e eu
fantasio um levante;
mas
amanhã,
diante
do juiz,
talvez
meus lábios
calem
a verdade
como
um foco de germes
capaz
de me destruir.
Olho
ao redor
e o
que vejo
e
acabo por repetir
são
mentiras.
Mal
sabe a criança dizer mãe
e a
propaganda lhe destrói a consciência.
A
mim, quase me arrastam
pela
gola do paletó
à
porta do templo
e me
pedem que aguarde
até
que a Democracia
se
digne aparecer no balcão.
Mas
eu sei,
porque
não estou amedrontado
a
ponto de cegar, que ela tem uma espada
a
lhe espetar as costelas
e o
riso que nos mostra
é
uma tênue cortina
lançada
sobre os arsenais.
Vamos
ao campo
e
não os vemos ao nosso lado,
no
plantio.
Mas
no tempo da colheita
lá
estão
e
acabam por nos roubar
até
o último grão de trigo.
Dizem-nos
que de nós emana o poder
mas
sempre o temos contra nós.
Dizem-nos
que é preciso
defender
nossos lares,
mas
se nos rebelamos contra a opressão
é
sobre nós que marcham os soldados.
E
por temor eu me calo.
Por
temor, aceito a condição
de
falso democrata
e
rotulo meus gestos
com
a palavra liberdade,
procurando,
num sorriso,
esconder
minha dor
diante
de meus superiores.
Mas
dentro de mim,
com
a potência de um milhão de vozes,
o
coração grita - MENTIRA!
“EDUARDO ALVES DA COSTA é autor de alguns dos
maiores e mais belos poemas da língua portuguesa. O fragmento de um deles, No
Caminho, com Maiakóvski, sem dúvida o mais popular — transformado em bandeira
contra a ditadura nos anos 70, em pôster, cartões postais, estampa de camiseta
da campanha Diretas Já, mensagem massificada na Internet — já foi conhecido, em
todo o Brasil, como o poema mais famoso e representativo de... Vladimir
Maiakóvski, o poeta russo. O equívoco, que durou muitos anos, é mais uma
vez corrigido neste livro” (...)
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