O Deus que eu
queria ter
Paulo Wainberg
Ser ateu não é apenas negar a
existência de Deus, é desejar que exista um Deus.
Eu, ateu, agnóstico e iconoclasta,
gostaria muito que existisse um Deus. O Deus que me faria acreditar nele não
estaria cuidando da minha vida o tempo todo. O Deus em que eu poderia acreditar
aceitaria que sou humano, tenho defeitos, pratico más ações e cometo pecados.
O meu Deus não me julgaria por ser o
que sou, porque eu não seria à sua imagem e semelhança.
O meu Deus não seria meu criador
particular nem estaria preocupado com o meu passado, meu presente e meu futuro.
Nem me encheria de culpas, não exigiria meu permanente respeito, fé absoluta,
não me cobraria obediência nem me diria o que é certo e o que é errado.
O Deus em que poderia acreditar não
seria justo nem injusto, não causaria a dor e a alegria, não me proporcionaria
a felicidade nem a tristeza.
Esse Deus em que eu poderia acreditar
não abençoaria meus dias, desde a hora de acordar até a hora de dormir. Também
não julgaria minha humanidade para me reservar o reino dos céus ou me condenar
à penação eterna no inferno.
O Deus possível seria o criador do
Universo e nada mais. Um ser com apenas o poder da criação e não um juiz
permanente, a exibir comportamentos, impor regras e designar destinos.
O meu Deus não careceria de religiões
a louvá-lo, não seria responsável pelas tragédias nem seria operador de
milagres. O Deus que imagino não exige fé, não faz promessas nem ameaças.
O Deus que desejo não é a
representação de Bem nem o oposto do Mal, não é a representação de nada, sua
existência seria apenas um fato da existência com a qual não teria qualquer
vínculo.
O Deus em que eu poderia crer, não me
prometeria vida eterna, nada me prometeria, seria um Deus em si mesmo, que nada
pede e nada espera da sua criação.
O meu Deus não estaria preocupado em
impor dez, vinte, trinta ou mil mandamentos e não diria quais as minhas funções
vitais são legítimas ou não.
Meu Deus não teria vontades a serem
observadas,desígnios a serem cumpridos nem planos misteriosos que, por linhas
tortas, escreveria o certo. Meu Deus nem saberia escrever.
O Deus que poderia me seduzir não
teria um livro a determinar atitudes, a se manifestar por parábolas e a querer
que sua criação seja assim ou assado.
O Deus em quem eu poderia acreditar
é, portanto, uma inexistência
14/11/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário