A dor da verdade
Suzette Rizzo 
A verdade abocanha e morde
e arranca aos pedaços as esperanças.
Não queria ouvi-la,
nem ter que come-la com fel
junto as futuras lembranças.
Ainda sinto o gosto daquela,
gritada  bem alto 
pelo prazer que ele sentiu
de me ferir.
Ainda ouço a voz grossa e aguda
como lança pontiaguda
acertando o peito  a florir.
Também gritei e muito alto
mas ninguém ouviu. 
Gritei na lágrima que escorreu
misturada ao atrito das nuvens 
e da chuva que caia a valer.
Gritei ardido, 
queimando o rosto frio
do inverno que dói , 
doerá, 
doeu.
E disse minha tia:
Vai passar minha filha!
Passou nada! 
Se repete todo dia
a décadas da minha vida.
Virou trauma, complexo de rejeição,
pavor intenso de traição.
E a verdade dolorida, 
sempre grita
em outra boca;
Ser traída é minha sina
e a lágrima...
meu estigma.

 
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