23 de maio de 2014


A dor da verdade
Suzette Rizzo


A verdade abocanha e morde
arranca aos pedaços as esperanças.
Não queria ouvi-la,
não queria ter que come-la com fel
das futuras lembranças.

Ainda sinto o gosto daquela,
gritada  bem alto
pelo prazer que ele sentiu
de me ferir.
Ainda ouço a voz grossa e aguda
como lança pontiaguda
acertando o peito  a florir.

Também gritei e muito alto
mas ninguém ouviu. 
Gritei na lágrima que escorreu
misturada ao atrito das nuvens 
e da chuva que caia a valer.
Gritei ardido, queimando o rosto frio
do inverno que dói , doerá, doeu.

E disse minha tia:
Vai passar minha filha!
Passou nada!
Se repete todo dia
a décadas da minha vida.

Virou trauma, complexo de rejeição,
pavor intenso de traição.
E a verdade dolorida,
sempre grita
em outra boca;

Ser traída é minha sina
e a lágrima...
meu estigma.




2 comentários:

  1. A verdade assusta as torrentes de incautos envolvidos na correnteza do engano e teus versos nos dão o refrigério em forma de sobriedade poética com a dose de lirismo que arrefece o frio da alma...

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  2. Obrigada amigo Ronaldo por suas lindas palavras e pela visita. Fiquei feliz em vê-lo por aqui . Bj

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