1 de março de 2014

APATIA
Suzette Rizzo

Não gosto de festas,
aniversários, Natal...
Não gosto de inicio de ano
ou final, menos ainda
de carnaval.
Não gosto de gente
viciada, tapada,
que só faz mal.
Estou traumatizada,
aniquilada, sofrida,
em conflito com a alma!




Não gosto do escuro,
da vida, do mofo,
do limbo, da sujeira...
Das noites, dos homens,
da beira fria da desgraça...
causadora de tanta asneira.

Não gosto do fútil,
do sutil,
da verdade nua...
Não gosto de mim que sofro,
não vivo e de vida estou crua.

Não pude mais
caminhar pela praia,
sonhar romantismos,
deitar-me serena,
arranjar meus poemas,
viver meu destino !

Incrível! Não poder mais
ouvir musica,
sair por ai... teatro, cinema.
Não consigo varrer a saudade,
espantar meu passado,
arrancar esta espada doída, 
cravada no peito cansado.

Não posso dizer banalidades...
combinar passeios, viagens,
sentir o sol queimando a pele,
a chuva molhando o rosto
e cadê o cheiro do mar?
Nunca mais, nunca mais!

Não... não estou doente... 
por enquanto não!
Nem paralisada, nada disso!
Mas, alguém me acorrenta
e é morto.
Alguém me reparte de longe...
Alguém que não vejo,
não sei quem... apenas sinto...
Suas mãos são de ódio,
seu olhar de maldade...
vingança grave!

É ele ou ela, o encosto...
O aborto quem sabe
de uma vida qualquer,
o carma absurdo vestido de carne...
E pelo menos um deles vive aqui,
neste louco destino que me agride
como alguém cheio de cachaça...

Sinto uma legião de fantasmas,
todos a meu redor...
Coisas debruçadas
em meus pensamentos,
nos vazios das horas...
Isolando meu mundo,
brecando meu rumo,
aprontando ciladas.

Não, eu não gosto de mim,
criatura sem forças
para rebentar correntes...
Não gosto da minha
cara infeliz,
do olhar vago,
parado, descontente...
Não gosto da poesia desamparada,
malfeita, isolada, covarde, discreta...
querendo gritar,
encontrar  este meu tempo
de portas abertas !

Suzette Rizzo

15 01 02 

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