22 de julho de 2017

Vantagens - Suzette Rizzo


Reunindo todas as saudades,
fazemos nossa história
de momentos perfilados
no pensamento...
Momentos gravados e reprisados,
jamais esgotados
nas horas solitárias.
Ser só, às vezes, tem gosto
de mousse de chocolate,
brilho da paz
a escorrer pelas paredes...
Ser só, tem lá suas vantagens,
como abrir a janela depois do sol, 
erguer os olhos para o céu,
ouvir um som e sonhar, sonhar...
a noite ganha.
Até que o sono nos agarre
e nos leve para cama
                  Suzette Rizzo






Babel noturna - Suzette Rizzo


Ouço as vozes da noite,
vozes dos animais no cio,
dos filhotes chorando no frio,
vozes na barraca de coco verde
e, através das paredes
ouço os casais, 
discutindo aos gritos.

Noites plagiadas!
De gargalhos endemoniados,
berros obsedados,
gente macabra soltando as línguas
ferinas,
enquanto outros, sufocados, choram
nos apartamentos, nos bares,
nas esquinas. 

Mas, todos bebem ou drogam-se
euforicamente gritado,
como as sirenes aceleradas
por estas ruas paulistas...
quase vazias, apesar do vozerio. 

Coisa triste esta avenida depravada
e transbordante
como um rio cheio de vícios. 

Afinal, nem sei porque
estranho tanto!
É só mais uma madrugada, 
serpente de boca larga,
nutrida e gorda de gritos. 
Suzette Rizzo _ October 05, 2007

Foto_ Porto Alegre





Visão do meu sol - Suzette Rizzo


Aí está você...
Com suas sobrancelhas bem desenhadas,
os olhos cerrados,
mostrando os cílios longos e escuros,
ocultando as peraltices da noite anterior,
no olhar que sempre amanhece
com ares menino.

Observo a tatuagem exibida
no braço esquerdo
e penso em suas ânsias de vida,
nos seus justos temores,
desejos e mais desejos
quase impossíveis.

Tudo exposto,
no verde brilho dos olhos,
no escorpião do signo,
na personalidade traiçoeira
e destrinchadora do meu
e tantos corações.

Aí está você.
Emudecido pelo sono...
Sereno, por ora vazio de problemas,
fazendo-se por instantes
repartir esta emoção,
mesmo que por acaso,
meio a meio! 

Aí está você...
mexendo com meus receios .

Suzette Rizzo





Vida, onde estavas?! - Suzette Rizzo


Estava árvore sem vida,
flor despetalada,
sino sem badalo 
Estava perdida
nesta selva,
floresta morta
sem mais frutos...
E o céu sobre mim 
como sempre
cinza-chumbo.

Estava galho seco,
folha ressequida
semivida.
Estava terra árida, 
mundo descolorido,
meio coisa,
meio esmigalhada, 
aqui perdida. 
   
De repente,
um beijo regado
a terra molhada...
de outra parte,
de tão longe,
mata a minha sede...
toca minha alma
e desperta-me.

Começo
a ver folhas novas,
minha carne
revigora-se...
O mar se abre,
o azul se mostra! 
Agora, vivo...
Estava morta!

               Suzette Rizzo