18 de outubro de 2015

Noites... noites...

Noites...  noites....
Suzette Rizzo 


Ando pela casa
tentando dividir a solidão
com meus cães.
Desamasso a folha avulsa de caderno,
meio amassada
e volto para cama,
cavoucando ainda na alma um verso,
tentando boas lembranças
entre fases amargas e ânsias tantas.
Então, desfilam fisionomias caricatas
nas caras de ontem
e faço a mim mesma relatos
percorro atitudes tomadas...
Por fim, rabisco letras descuidadas,
certamente amanhã na lixeira.




Conservo somente a impressão
de sempre estar
num vazio vagão de trem
que saiu fora dos trilhos.
Faça o que fizer,
a solidão jamais se desprenderá 
do meu  umbigo




Alerta




Alerta
Suzette Rizzo

Não pode haver maior desgraça
que um vício comendo a carcaça
de um fraco.
Não há maior desalento
que um olhar purulento
invocando a própria morte
para ungüento.

Suzette Rizzo

26 06 2005



D’além das crateras da terra



D’além das crateras da terra
certamente
Suzette Rizzo

Nenhum mortal relampeja
luzes ao seu redor,
nem alastra suave perfume,
tão natural.
Nenhum mortal
possui tal transparência,
nem escreve poemas
debaixo do vendaval

Ah! tua voz de veludo,
teus gestos puros,
de ouro,
teu coração lapidado diamante,
e quanta perfeição,
no contorno do teu rosto.

Onde estavas escondido,
que só agora resolvestes
enfeitar este meu mundo!
Onde estavas, meu amigo?

Tenho pensado,
que caístes de alguma nave
para ensinar esta terra
o sentido do amor...
Pois minha alma anda leve,
meu peito aliviado
e o ruim, agora é breve.

Trazes dentro de ti 
um céu de poesia,
na pele o macio e o tom ideal...
E teu cabelo, textura
da seda chinesa,
encosta suave em meu rosto
como se fosse irreal.

Pergunto-me
quando só com meus pensamentos:
-Serás mortal?

                                  Suzette Rizzo


Avistando matizes

Avistando matizes
Suzette Rizzo

O que vejo são reflexos dourados,
mares azulados,
o colorido das flores campestres
enfeitando os olhos inventados
pelo Maior.
O que vejo são esperanças enfileiradas,
dias ensolarados,
amanhãs fortalecidos
um tempo enfim, melhor.
O que vejo merece uma escada,
um púlpito,
uma chuva de glorias a Deus
lavando esse  tanto de pó,
que me permita ver agora
com os  olhos da alma
e só.






Arquivo



Arquivo
Suzette Rizzo

O passado tem cadeira cativa
nestas noites melancólicas,
gritos de protesto,
som de choro escoado no ralo,
ardência de sal grosso...

E o pensamento não ousa intervalos.

O passado é um querer renunciar sem poder 
e é tudo que sinto, lembro...


É rolagem rápida pelo presente,
uma ou outra coisa infame, pendente...
Mas, eu,sempre, do passado dependente.





Apoplexia

Apoplexia
Suzette Rizzo

Guardei pedras,
nuvens densas,
invernos gelados,
cama fria...
Guardei no pensamento, 
negruras e fantasmas
e às vezes me odeio
por ter mantido na memória   
fisionomias caricatas.

Sofri sem anestesia !
Guardei tanta dor!

Preenchi esta alma
 por mais mil vidas futuras,
que por mim recusaria.
Odeio muitos desses rostos
que guardei,
reais  encostos’,causa das fobias,
e da maldita melancolia
que não seca,  
nem implode de vez.

Nem penso em reatar meu cordão,
para voltar um dia...
Não quero nem mesmo 
sangrar a essência  
através da psicografia.




A essência sabe

A essência sabe
Suzette Rizzo

Diria explicitamente a sensação
da alma afogada
no mar da ignorância que me cerca,
se pudesse

Escreveria além das amarguras
dos recalques e faltas,
medos do escuro
e eterna solidão.


Diria de mim o que posso:
A alma estranha e o sensível coração.

Explicaria cada versículo das escrituras
e para que o mundo compreendesse diria,
que em sopros bilenares, formou-se tudo,
natureza e criatura.

Nasci aqui por engano com certeza,
pois respeito a vida de todas as coisas
e com admiração observo
céus e estrelas.

Reconheço a pouca idade do planeta,
razão dos grandes males,
mas tenho espírito velho e não como carne.

Nasci aqui por acaso...
minha essência sabe!


Thursday, May 10, 2012