30 de março de 2015

Restos



RESTOS
(Falando de amor)
Suzette Rizzo


Não importa a certeza da fase morta,
a fantasia pendurada
na porta do coração,
nem o soluço amordaçado...
Se teu  cheiro de mar ficou
espalhado no meu ar !



O que importa é que te  quero
ainda mais

Restaram, na verdade, 
versos, palavras
e luzes apagadas,
que jamais encobrem
teus olhos nestas noites ,
nem me permitem sonhos novos 
 ou transpirar-te pelos poros.

E quero apenas, estar com quem gosto

Forço mentiras
ocultando a metade fraca...
Fazendo meu teatro para os outros,
nos gestos, nos atos,
trancando em meu peito
os fracassos
e a contorção dos desejos,
do teu corpo que abrasava,
o frio da minha alma !

E te quero, não importa, 
até mesmo em  minhas lágrimas

Suzette Rizzo

Sai dessa... amigo


Sai dessa...  amigo
Suzette Rizzo


Louca figura, cabeça doçura,
das noites tão cruas
que a vida criou.
Assim, desovando no riso
o amor que é preciso
fingir pra crescer.





Mas não vai tão profundo,
viver tão injusto
na espera de ter;
mais noites doidices
instantes tolices
livre arbítrio a valer.

Que a visão pode ser seca
como um rio que foi rio...
que a ilusão pode ser besta
como uma mastro sem navio.

Miragem das noites de lua,
estranha e terna criatura
mais brilhante que o brilho.
Por favor, não seja irrecuperável
nem quebre ao meio seu destino;

Sai dessa, meu amigo insaturável!

                  Suzette Rizzo

Sonho


Sonho
Suzette Rizzo

Mais uma noite
em que o sonho se deita a meu lado,
alimenta sentimentos,
ocupa o lado esquerdo
da minha cama
e abraça estes momentos.

Mais uma noite de canções suaves,
roçando em meus ouvidos
a brandura deste amor...



mais uma noite das mil e uma
de total torpor.

Mais uma noite de amor!
Dona do meu sonho
e desta saudade indolor.
Não foi por querer que você se foi
e por isso, sinto a quentura das suas mãos
como a dizer que ficou.

Eu sei!
Não deixaria que o vazio rodeasse
para sempre o meu destino.
Eu sei que a minha verdade agora exposta
não se encobre dos seus olhos.

Estou leve como uma pena,
tranqüila deste amor imorredouro,
enfeitando de certezas,
nosso amor cinco estrelas.

Mais uma noite de sonhos sequentes
que o coração obediente
dança no mesmo compasso

Mais uma noite que eu durmo
aninhada nos seus braços!

Sequer uma chance



Sequer uma chance
Suzette Rizzo

Ignorou meus instintos
e os pavores acompanhantes desta jornada.





Mas, soube do frio
que a solidão causou
em cada madrugada.

Mesmo assim secou estrelas
quando desertou-se da minha vida,
levando a ilusão de talvez um dia,
o peito em festa.
E como sempre, alheio a minha pessoa,
cortou-me ao meio feito canoa,
quis ver-me afundar mais depressa.

Já era tempo de chuva
quando de vez turvou-me a alma,
enrolando o tapete azul celeste,
para eu não ver a cor da calma

Apagou tudo de seu,
nem deixando nas calçadas
o rastro das suas culpas,
para minha certeza absoluta
de ter sido mesmo nada. 

( Desde então, apesar de tudo,
o mais fútil dos meus sonhos
é ainda querer você )

Suzette Rizzo

Sonho Real



Sonho Real
Suzette Rizzo

Vejo em meu sonho um rio seco,
folhagens mortas...
e impressiona-me notar borboletas
de asas cortadas.

Vejo o céu dividido:
Sobre mim, temporal,
sobre o velho do alto da pedra,
muito sol.





Mostra-me um símbolo,
um pentagrama...  
roda esotérica partida,
qualquer coisa viva que avisa,
como informante de mim,
anjo amigo, sei lá !

Observo o temporal.
O velho de calma no olhar...
a roda, meio leme de navio,
o rio seco da vida...
e eu borboleta tristonha
em meio a depredação.

Acordo no quarto vazio,
e descanso os olhos do sonho,
pra viver meu recomeço
o real pesadelo.

Recebo a noticia!
Cadê minhas asas?
Não posso fugir,
não posso voar atrás dele
Estremeço!


Suzette Rizzo