15 de março de 2015

Ressentimentos (separação)


RESSENTIMENTOS
(Separação)
Suzette Rizzo

Ressenti!
Não foi fácil dialogar finais,
expor duras verdades,
sentarmos no sofá recém comprado,
olhar em volta e temer,
tudo aquilo desmoronado. 




Terrível reprimir, tamanho rancor,
ter que olhar com olhos compreensivos,
esparramar  anos sobre os tapetes,
ver pertences, mobília, livros,
sair pela porta... após ele. 

Aconteceu dentro de mim,
um turbilhão de ressentimentos...
Aquele fim, cortara uma vida pela raiz
e não haveria reconciliação,
nem houve recíprocos lamentos...
Ele se foi, como visita de verão. 

Sobrou a garganta dolorida
de um nó bem guardado,
orgulhosamente escondido
impedindo desabafos...
E os olhos?
para sempre ardidos. 

Sobrou no peito
uma dor maldita...
Total desesperança de futuro...
Minha vida?
No terminal e na descida.


Suzette Rizzo

Cadê a musica?


CADÊ A MUSICA?
Suzette Rizzo

Cadê a musica dos deuses,
das douradas esferas,
o enfeite do meu poema,
do azul da aquarela,
de amansar a minha fera !?.

Cadê a musica? Aquela...

Que dançava suave pelo ar,
exalando incensos, fluídos,
descansando meus ouvidos
do atrito terreno, rançoso
poluído...

Cadê a musica? Aquela...

Adoçante, exclusiva...
bailando pautas e notas
num movimento leve e lento,
rítmico, místico,
odor de sais de banho,
sons de beijos atrevidos !?.

Cadê a musica? Aquela...

Que era minha,
navegante de mares celestiais,
ilusões especiais,
ornando de arcos harmoniosos,
 nosso amor carnal ?!

Cadê a musica? Aquela...

Que matou meus motivos,
enterrou minha sina
e esmagou a ilusão de ser
eternamente minha!

Suzette Rizzo
 March 13, 2010


Aparição


Aparição
Suzette Rizzo

Capaz de desnudar sentimentos,
penetrar o oculto,
arrancar lágrimas,
sorrateiramente passa pela porta
do quarto,
mostra-se meio translúcido
energiza-me a alma



e silenciosamente permanece
em mim.
Pelo espelho flagro o olhar
e não é visão...
Emociono-me: É ele sim!


Enfado



Enfado
Suzette Rizzo

Tento estar totalmente abstinente,
entregue a nada,
como se meditasse a noite
entre ondas da enseada.
Apenas alguns segundos
e endurece-me o corpo
adormece-me a alma,
não sinto as águas.


Mas, não gosto desse vazio,
tal e qual
(escarne de poema fingido)
tingindo cores de tudo
de nada.
Totalmente sóbria
encolho pensamentos,
suas pilherias amontoadas
sob o jardim do meu templo
e fora da minha alma.
Devo-me um repouso
e comprimo um a um
os instantes de um tempo
sonso...
Não consigo meditar,
algo atrapalha!
Há uma gruta escura minguando
meu  bem estar
Desgraçadamente penso, penso,
 penso .......
Até a cabeça doer
e a lágrima secar

Desmemoria



Desmemoria
Suzette Rizzo

Embora do fogo
quero que o mar refresque
o que foi incendiado.
Não quero a quentura do teu corpo,
cheiro de vela apagada,
pelo menos até a minha cremação,
não.



Permito sim,
que as chamas queimem então,
pensamentos turvos,
magoas  acumuladas
e eu chegue suave por lá,
sem memória chamuscada.
Por hora, quero ser peixe
respirando dentro d’água