11 de janeiro de 2015

A dor da verdade



A dor da verdade
Suzette Rizzo 

A verdade abocanha e morde
e arranca aos pedaços as esperanças.
Não queria ouvi-la,
nem ter que come-la com fel
junto as futuras lembranças.


Ainda sinto o gosto daquela,
gritada  bem alto
pelo prazer que ele sentiu
de me ferir.
Ainda ouço a voz grossa e aguda
como lança pontiaguda
acertando o peito  a florir.

Também gritei e muito alto
mas ninguém ouviu. 
Gritei na lágrima que escorreu
misturada ao atrito das nuvens 
e da chuva que caia a valer.

Gritei ardido,
queimando o rosto frio
do inverno que dói ,
doerá,
doeu.

E disse minha tia:
Vai passar minha filha!
Passou nada!
Se repete todo dia
a décadas da minha vida.

Virou trauma, complexo de rejeição,
pavor intenso de traição.
E a verdade dolorida,
sempre grita
em outra boca;

Ser traída é minha sina
e a lágrima...
meu estigma.

Cansei de uivar


Cansei de uivar
Suzette Rizzo


Cansei de ouvir uivos interiores
por insones madrugadas,
cansei de comparar meus sons
com latidos de socorro,
cansei de lembrar as mesmas magoas,
trazer doenças da alma para o corpo
e mais ainda cansei deste jeito tolo
de ser e sofrer.
Cansei de escrever,  pensar tristezas
e dessa descoragem que me ferra.



Cansei de morrer um pouco mais que todos
nessa lama que me enterra
e me cansei desse decorrer  da vida 
que é a jato
e é de fato, só passagem...