7 de novembro de 2014

Anoitecer outonal


Anoitecer outonal 
Suzette Rizzo

A tarde ainda amorna o piso
e o céu
anoitece cravejando brilhos
à visão que busca
belezas no infinito.
O friozinho do outono não me preocupa,
os animais sem lar inda não tremem
e adormeço então tranqüila
quando o sono vem.
Logo mais, na próxima estação,
meu desassossego pegará corda
assim que o limite que enxergo acinzentar
e a terra parecer morta.
Logo, sofrerei,
quando os verdes se queimarem,
as flores se encolherem do mau tempo.
Será  preciso buscar o sol
nos vãos do pensamento.

Por ora, aprecio a brincadeira das crianças,
observo o bronzeado dos meninos da minha rua
e o sorriso aberto no semblante das pessoas.
Logo mais,
verei o andar apressado dos trabalhadores
encolhidos, encapuzados,
querendo correr para o aconchego
dos seus quartos,
aboletar-se sob ralos cobertores.
É então que o sono me abandona
e a alma aflita pensa nos bichos e mendigos,
e pede a Deus com afinco, manhãs de sol.
Odeio invernos, finais de outono,
em que o tempo se faz senhor de mortes
e ri do meu pais entristecido.
Por ora,
a tarde inda amorna o piso.


Suzette Rizzo