23 de maio de 2014


A dor da verdade
Suzette Rizzo


A verdade abocanha e morde
arranca aos pedaços as esperanças.
Não queria ouvi-la,
não queria ter que come-la com fel
das futuras lembranças.

Ainda sinto o gosto daquela,
gritada  bem alto
pelo prazer que ele sentiu
de me ferir.
Ainda ouço a voz grossa e aguda
como lança pontiaguda
acertando o peito  a florir.

Também gritei e muito alto
mas ninguém ouviu. 
Gritei na lágrima que escorreu
misturada ao atrito das nuvens 
e da chuva que caia a valer.
Gritei ardido, queimando o rosto frio
do inverno que dói , doerá, doeu.

E disse minha tia:
Vai passar minha filha!
Passou nada!
Se repete todo dia
a décadas da minha vida.

Virou trauma, complexo de rejeição,
pavor intenso de traição.
E a verdade dolorida,
sempre grita
em outra boca;

Ser traída é minha sina
e a lágrima...
meu estigma.





Crise depressiva.
Suzette Rizzo 




Aborrecimentos uivam
de modo aflitivo
e a lágrima que arranha a face
incha os olhos ardidos.
Mas nada cessa nem seca,
interioriza-se novamente..
O acumulo deprime
desanda envergando os sonhos,
e não há linha de chegada
ao pessimismo.

Nem sei se chove
"não botei a cara na janela".
não tenho portas trancadas,
mas estou encarcerada
corpo e alma.
Penso numa palavra ofensiva,
berrantemente amarela.
Sinto um nó na garganta
e o aguar da saliva...
A essência se comprime
semiviva

A FLOR DA MINHA VIDA





A FLOR DA MINHA VIDA
Suzette Rizzo
  
É a alma dourada,
vinda do espaço pra ser
movimento e carne,
pensamento livre,
amor imortal.

É a flor que se expõe através de mim
aos ares maléficos do planeta...
A flor que não sacia a sede
se não chover bênçãos celestes...
A flor sofredora quando o sol derrete o corpo...
A flor nascida para a vida agreste. 

Sou uma flor entre tantas...
No imenso jardim universal.
Sou quem brotou
num canto qualquer da terra,
para viver meu lado mortal. 

Uma flor arraigada,
a tantos seres que nasceram, irão nascer...
Sou meu espaço,
meu livro, meu tempo,
a força movida a pensamento... 

Sou a flor soprada do além
para ser meu crescimento
e depois, voltar de onde vim...
E depois, amar muito mais
o coração de meu Pai.

Suzette Rizzo
pintura: eriko_mitsuhashi


Amores
Suzette Rizzo

Nem parece real
ter caminhado por ruas desertas
cantarolando a canção do Dusek.
Madrugada quente, madrugada fria,
anos repetidos... torpor...
o coração transbordando
poemas de amor.


Esperanças e sonhos borbulhando   
todo o tempo,
um aperto, no entanto, por dentro,
de uma saudade chorosa,
de olhar embaçado,
antecipados tormentos

Nem parece real
ter amado outro, um dia,
de modo semelhante...
ter esquecido tudo aquilo,
os momentos cálidos,
todo e qualquer desmaio 
sob o azul celeste...
Nem lembro ter amado antes,
nem parece!

Madrugada quente,
madrugada gelada de inverno
outro olhar enfraquecendo as pernas,
transformando em céus meus infernos.
O resto trancafiou-se por si 
no calabouço
definhando o que era eterno


Desaponto
Suzette Rizzo

Juras, mentiras, cilada,
escolha péssima ou melhor
(léxica).
E pensar, caí em outros ardis
e esta essência ainda é crédula.
É minha a culpa, o termo ‘acontece’
é desculpa amarela, da terra.
Para o futuro esperteza,
olho aberto,
porque o mundo é sempre fera.



Quantas palavras (cruzadas)
sem pé nem cabeça,
quanta  simulação,
paciência de santo,
é óbvio...  exigiu destreza!
Puxa! Decepção!
Quanta chuva fazendo lama
no meu chão!