6 de abril de 2014



A morte do pássaro-poeta
Suzette Rizzo

Escreveu-lhe um dia:

(Lá vai ele com seu vôo de pássaro raro
e ela observando seu revoar,
ouvindo-lhe o canto manso e doce,
atraída pela plumagem
se achegando mais e (mais).

E se debruçava no poema,
antes tentando decifrar conteúdos,
depois catando palavras,
lendo e fazendo na verdade
palavras cruzadas.

Notava mulheres exibindo carências,
encostando, roçando...
abrindo problemas,
fingindo entendimento,
não percebendo o degrau,
querendo ou não, tropeçando.

E ela continuou deitada sobre o poema
temendo os corpos acesos das outras
enquanto lia a ardência dos temas.

Mais alem, começa a eliminar versos,
a bagunça dos versos que dizem nada.
No centro, uma ou outra palavra-resposta
onde todas se encontram
ao sabor da falsa hóstia.

Meses de revoada,
meses insones, alguns...
e os olhos semi cerrados, dela, se abrem.
O pássaro tomba, o olhar seca
e acontece algo inusitado:

Os poemas se enterram
no túmulo dos sonhos,
o portal se fecha e se dissipa por dentro dela.
Finalmente mira a magia
e mata o poeta.

Suzette Rizzo