24 de março de 2014

Emigrantes
Suzette Rizzo

Seria eu Kamala da primeira etapa,
ele o Sidarta por quem me apaixono.
Ouvimos o rio, procuramos a fundo
um viver fora do mundo.
E vamos indo entre conflitos,
cada qual com seu destino.



Vivemos juntos alguma história,
pelo menos por alguns passos
dividindo a mesma hóstia.
Espero apenas ser lembrada,
como mulher amada
nunca de outra forma.
Pois o céu abriga astros

e as estrelas cultivam hortas. 
Decapitação
Suzette Rizzo

Mais um tempo usado, obsoleto,
correndo ponteiros .
Mais uma página enterrada no gueto
do meu roteiro.
Mais um sentimento repelido
mais um pouco de uivo,
mais um pouco de escuro
debaixo do travesseiro.

Mais um pouco de magoa,
mais um pouco reprisado,
mais um tempo tragado
e expelidor desta alma filha
de destinos traiçoeiros...

Assim me sinto:Cara de palhaço.
Como fosse um cigarro barato
no tablado do barateiro ou 
simplesmente um vento corriqueiro.
E pior,
decapitada por Perseu
e a cova do coveiro.
Suzette Rizzo



Asas podadas
Suzette Rizzo

Cortaram-me as asas,      
a  liberdade  sonhada, suplicada ,  
chorada milhões de séculos.

Reconheço-me mais uma vez,
em idêntico exílio
nesta alma aprisionada,
sempre em destroços...                    
Voltei   
seqüência do meu martírio.                         

Destino infame, castração eterna,  
impotência absoluta diante de tudo...
Nem em sonhos alcanço alturas!
Resto-me  alma sombria,
guardando os mesmos lutos...  

Sou vida curta
caída em caos profundo!
Minhas asas abstratas
não conseguem nunca
viver futuros.


Suzette Rizzo_