1 de março de 2014

Assombro
Suzette Rizzo

Hoje, a impressão 
é de uma dança de anjos 
ao meu redor.
Espanto que alimenta esperanças,
descloroformiza 
a impassibilidade interior,
aquele muro refreador
de sentir da vida, a dança.

A impressão é de sol
apesar do tempo dissimulado,
Mas, o corpo é sem casca
e recheio,
tamanha leveza.

Hoje, inacreditavelmente
a impressão é de desmanche
dos poemas chuviscosos;
Se foram hoje, os sensíveis sentimentos
e surpreendo-me despindo a vestimenta
das palavras lamentosas.

Danço conforme a impressão
que leva o temporal dos versos
junto a ventania furiosa.
 



Gloria Gaynor - Can't Take My Eyes Off You (Tradução)

Avesso das horas
Suzette Rizzo



Atrapalhados ponteiros
atrapalhando pensamentos.
Atrapalhados segundos
atrapalhando o mundo.
Atrapalho-me
neste sonho atrapalhado,
de olhar o relógio da torre
e ver enormes ponteiros,
marcando tão profundo
atrapalhações,
neste tempo estrangeiro


**estrangeiro=terra (longe da pátria espiritual) **

  
APATIA
Suzette Rizzo

Não gosto de festas,
aniversários, Natal...
Não gosto de inicio de ano
ou final, menos ainda
de carnaval.
Não gosto de gente
viciada, tapada,
que só faz mal.
Estou traumatizada,
aniquilada, sofrida,
em conflito com a alma!




Não gosto do escuro,
da vida, do mofo,
do limbo, da sujeira...
Das noites, dos homens,
da beira fria da desgraça...
causadora de tanta asneira.

Não gosto do fútil,
do sutil,
da verdade nua...
Não gosto de mim que sofro,
não vivo e de vida estou crua.

Não pude mais
caminhar pela praia,
sonhar romantismos,
deitar-me serena,
arranjar meus poemas,
viver meu destino !

Incrível! Não poder mais
ouvir musica,
sair por ai... teatro, cinema.
Não consigo varrer a saudade,
espantar meu passado,
arrancar esta espada doída, 
cravada no peito cansado.

Não posso dizer banalidades...
combinar passeios, viagens,
sentir o sol queimando a pele,
a chuva molhando o rosto
e cadê o cheiro do mar?
Nunca mais, nunca mais!

Não... não estou doente... 
por enquanto não!
Nem paralisada, nada disso!
Mas, alguém me acorrenta
e é morto.
Alguém me reparte de longe...
Alguém que não vejo,
não sei quem... apenas sinto...
Suas mãos são de ódio,
seu olhar de maldade...
vingança grave!

É ele ou ela, o encosto...
O aborto quem sabe
de uma vida qualquer,
o carma absurdo vestido de carne...
E pelo menos um deles vive aqui,
neste louco destino que me agride
como alguém cheio de cachaça...

Sinto uma legião de fantasmas,
todos a meu redor...
Coisas debruçadas
em meus pensamentos,
nos vazios das horas...
Isolando meu mundo,
brecando meu rumo,
aprontando ciladas.

Não, eu não gosto de mim,
criatura sem forças
para rebentar correntes...
Não gosto da minha
cara infeliz,
do olhar vago,
parado, descontente...
Não gosto da poesia desamparada,
malfeita, isolada, covarde, discreta...
querendo gritar,
encontrar  este meu tempo
de portas abertas !

Suzette Rizzo

15 01 02 
UM TOLO EM MINHA VIDA
(II)
Suzette Rizzo

Meus sentimentos frustrados
libertaram-se...
Estavam eles trancados no peito,
inundando a alma de águas salgadas .
Escaparam através das frases tímidas,
atraindo seus olhares insensíveis,
que por fim consentiram 
uma abertura pequenina,
buraco de agulha...  mal pude entrar .

E tudo se deslanchou de modo simples,
estávamos dois velhos amigos,
vivendo a calma do amor acostumado,
de gostos conhecidos...
e poucos anos se passaram,
quando ele se deu conta ,
que o calmo não é paixão.

Detestou tal ausência vibrante,
ânsias constantes...
era pouco amar assim !
Queria o transbordar das emoções,
a fantasia  principiante, a euforia estonteante...
e quem não quer princípio eterno?

Mas, nem sabia, o tolo,
que  todo amor amadurece
e por si sereniza...
e que o bom do amor é o tranqüilo,
é simplesmente estabilidade
e a paz de cada dia.
O resto é tesão dos primeiros dias,
misturado ao relâmpago da paixão.

Isso termina ! 
Não chega nunca ao coração !
Suzette Rizzo