APATIA
Suzette Rizzo
Não gosto de festas,
aniversários, Natal...
Não gosto de inicio de
ano
ou final, menos ainda
de carnaval.
Não gosto de gente
viciada, tapada,
que só faz mal.
Estou traumatizada,
aniquilada, sofrida,
em conflito com a alma!
Não gosto do escuro,
da vida, do mofo,
do limbo, da
sujeira...
Das noites, dos
homens,
da beira fria
da desgraça...
causadora de tanta
asneira.
Não gosto do fútil,
do sutil,
da verdade nua...
Não gosto de mim que
sofro,
não vivo e de vida
estou crua.
Não pude mais
caminhar pela praia,
sonhar romantismos,
deitar-me serena,
arranjar meus
poemas,
viver meu destino !
Incrível! Não poder mais
ouvir musica,
sair por ai... teatro, cinema.
Não consigo varrer a
saudade,
espantar meu passado,
arrancar esta espada doída,
cravada no peito cansado.
Não posso dizer
banalidades...
combinar passeios, viagens,
sentir o sol queimando
a pele,
a chuva molhando
o rosto
e cadê o cheiro do mar?
Nunca mais, nunca mais!
Não... não estou
doente...
por enquanto não!
Nem paralisada, nada
disso!
Mas, alguém me
acorrenta
e é morto.
Alguém me reparte de longe...
Alguém que não vejo,
não sei quem... apenas
sinto...
Suas mãos são de ódio,
seu olhar de
maldade...
vingança grave!
É ele ou ela, o
encosto...
O aborto quem sabe
de uma vida qualquer,
o carma absurdo
vestido de carne...
E pelo menos um deles
vive aqui,
neste
louco destino que me agride
como alguém cheio de
cachaça...
Sinto uma legião de
fantasmas,
todos a meu redor...
Coisas debruçadas
em meus pensamentos,
nos vazios das horas...
Isolando meu mundo,
brecando meu rumo,
aprontando ciladas.
Não, eu não gosto de mim,
criatura sem forças
para rebentar
correntes...
Não gosto da minha
cara infeliz,
do olhar vago,
parado, descontente...
Não gosto da poesia desamparada,
malfeita, isolada,
covarde, discreta...
querendo gritar,
encontrar este
meu tempo
de portas abertas !
Suzette Rizzo
15 01 02